Comunicado Nacional da RECC – 9 de março de 2023.
O atual ordenamento do Ensino Médio brasileiro, o popularmente conhecido Novo Ensino Médio (NEM), não só é a atualização do polémico Escola Sem Partido, como o aprofundamento normativo e a viabilização burocrática deste projeto. A saber, um projeto liberal de naturalização da precariedade de condições sociais, não apenas as educacionais mas sobretudo de todos os direitos básicos, jogando o peso dessas demandas, o ônus do deficit de programas sociais que garantam a qualidade desses serviços, exatamente na parcela da população que depende destas garantias mas não as têm. Porém como isso se dá? Como o NEM dá condições de aplicar socialmente a massificação da ideologia liberal?
É preciso considerar como esse modelo foi adotado. Começa por ter sido planejado e proposto sem consultar a comunidade atingida, os professores, alunos e famílias afetadas diretamente. Nenhuma entidade de peso social foi considerada ou minimamente ouvida. Os poucos grupos de estudantes que tentaram impetrar uma luta ativa contra essa mudança foram isolados politicamente e criminalizados; professores foram espancados e reprimidos das mais variadas formas ao longo do território nacional. Tudo feito à revelia da sociedade. Na sequência o governo não proporcionou condições sólidas de adaptação das escolas, o tempo para implementação e execução foi totalmente – – –
artificial e aleatório, demonstrando o completo descaso dos órgãos responsáveis com as consequências do impacto destas mudanças nas comunidades vulneráveis do país.
O que acontece é que a formação ampliada e diversificada fica comprometida visto que são priorizadas as disciplinas de Matemática e Português, em detrimento a disciplinas de formação humanística; Sociologia, História, Geografia, Filosofia e Artes, que podem vir a ter suas carga horário reduzidas, a depender do conselho diretor da unidade escolar, bem como está vulnerável a estas determinações a disciplina de Educação Física.
O efeito disto é destinar jovens das redes estaduais de ensino a uma formação muito básica, aprofundando efeitos tecnocráticos da organização social (a idéia de dividir a sociedade segundo o potencial de cada pessoa de ocupar determinadas posições chave na dinâmica capitalista), considerando que estes jovens terão seu ensino concentrado em poucos campos de conhecimento, reduzindo o número de oportunidades que estes possam vir a buscar, até mesmo em termos de concursos públicos (qualificando-se para quadros mais simples e menos procurados, por isso também pior remunerados e mais vulneráveis), não apenas dificultando seriamente o acesso desses jovens a níveis de ensino mais especializados como os – – –
cursos superiores universitários e cursos técnicos em escolas federais (estas vagas, inevitavelmente, acabando por se concentrar nas mãos da juventude privilegiada das classes dominantes).
Outro perigoso e pernicioso efeito são os cursos complementares eletivos do NEM, que por falta de planejamento, acabou por dar condições à colonização do imaginário da juventude pobre através da popularização de cursos de matemática financeira, economia empreendedora, empreendedorismo comunitário, e toda uma gama de projetos que têm por fim a naturalização cultural do processo de ”uberização”, quando antes este era um efeito – – –
estrutural da falta de postos de trabalho e da vulnerabilização da seguridade social, agora passa a ser propagado como ideologia a ser naturalizada e até mesmo agradecida, assim os nossos jovens deveriam agradecer uma formação empreendedora, assumindo unicamente para si a responsabilidade de mudar sua realidade social, tirando do governo e da burguesia esta responsabilidade. Intensificando a competitividade entre as pessoas da sociedade, esta idéia fundamental do liberalismo que nos aliena, cada vez mais, de práticas solidárias e comunitárias, e que já é estimulada de forma sutil a partir de nossos esquemas de notas, mas que será infinitamente mais estimulada com cursos que naturalizam a idéia de que você é seu – – –
próprio empresário, patrão, investidor e os outros, suas idéias e seus negócios são adversários a serem superados e deixados para trás.
A luta contra esse modelo que só aprofunda e amplia as distâncias do fosso da desigualdade, é um dever da juventude classista e combativa e não será fácil. Somente com o envolvimento e apoio mútuo dos setores estudantis, universitários (que serão os futuros professores dessas redes de ensino), alunos das redes estaduais de educação (que são as pessoas imediatamente prejudicadas) e os professores, que teremos condições, caso adotemos táticas combativas, de democracia de base em suas – – –
formas organizativas, de fazermos retroceder esse absurdo que só atende os interesses das classes dominantes na formação de mão de obra barata para seus serviços menos prestigiados, ampliando a estratificação social.
GREVE GERAL DE OCUPAÇÃO PARA REVOGAR A REFORMA DO NOVO ENSINO MÉDIO!
CONSTRUIR UMA EDUCAÇÃO A SERVIÇO DO POVO!
LUTAR PARA ESTUDAR, ESTUDAR PARA LUTAR!